Bienal de São Paulo 2025: o encontro entre arte, humanidade e o silêncio que revela mundos
A Bienal de São Paulo 2025 abriu suas portas com um convite poético e provocador: revisitar o que significa ser humano em um tempo em que essa ideia parece se diluir.
Inspirada no poema Da calma e do silêncio, de Conceição Evaristo, a mostra deste ano carrega o título Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática. A proposta nasce do desejo de olhar para dentro, de escutar o que há por trás do ruído do mundo e reconhecer, nas pequenas expressões, os caminhos possíveis para reconstruir vínculos.
Sob curadoria de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung e um time internacional de co-curadores, a Bienal se transforma em um território de trocas sensíveis, onde as obras dialogam não apenas entre si, mas com o visitante.
A estrutura em capítulos da Bienal de São Paulo 2025
A Bienal de São Paulo 2025 não se limita a exibir arte; ela a entende como gesto humano. O próprio conceito curatorial reflete essa visão: a arte como verbo, como ação que provoca encontro, cuidado e resistência.

Ao caminhar pelo Pavilhão Ciccillo Matarazzo, o público é conduzido por uma narrativa que se desdobra em seis capítulos, cada um deles revelando um fragmento dessa ideia maior.
Frequências de chegadas e pertencimentos
Este primeiro núcleo propõe um reencontro entre corpo e natureza. As obras exploram a ligação essencial entre o ser humano, a terra e os elementos que o cercam, revelando que pertencimento também é matéria e memória.
Gramáticas de insurgências
Aqui, a arte se faz instrumento de resistência. As criações abordam as muitas formas de insurgência contra estruturas de poder e narrativas coloniais, reivindicando novas maneiras de existir e expressar o que foi silenciado.
Sobre ritmos espaciais e narrações
Neste capítulo, a atenção se volta aos fluxos migratórios e aos caminhos percorridos por aqueles que se deslocam. As obras refletem sobre o movimento, o espaço e as histórias que se inscrevem no trânsito entre territórios.

Fluxos de cuidado e cosmologias plurais
As criações reunidas neste eixo convidam a repensar as formas de convivência e de cuidado. Inspiradas por saberes ancestrais e perspectivas diversas, elas questionam modelos de relação baseados em dominação e propõem novas maneiras de se estar no mundo.
Cadências de transformação
O quinto capítulo celebra a mudança como estado natural da vida. As obras apresentam o tempo como matéria viva, algo que se expande, se desfaz e se refaz continuamente, transformando o espaço expositivo em um organismo em mutação.
A intratável beleza do mundo
Encerrando a mostra, este capítulo traz a beleza como gesto de resistência. Em um tempo de incertezas, as obras lembram que o belo também pode habitar o imperfeito, o fragmentado e o que resiste a desaparecer.
O papel das cortinas na Bienal: quando o tecido se torna arquitetura
Nesta edição, um dos elementos mais comentados da Bienal de São Paulo 2025 é o uso das cortinas na ambientação do espaço expositivo. Longe de serem meros suportes ou barreiras visuais, elas assumem papel protagonista na composição espacial, redesenhando o Pavilhão de forma sensorial e poética.

As cortinas criam passagens, delimitam percursos e moldam a experiência do visitante. Elas atuam como uma pele entre o público e a obra, filtrando luzes, cores e sons. Em muitos trechos, são elas que definem o ritmo da caminhada: abrem-se para revelar instalações e fecham-se parcialmente, conduzindo o olhar de forma sutil.
Essa intervenção têxtil rompe com a rigidez do concreto e do vidro que caracterizam o edifício. O resultado é uma nova espacialidade, mais fluida e acolhedora, que se move com o vento e com o corpo de quem transita. O tecido deixa de ser coadjuvante para se tornar linguagem: um material que respira junto com a arte e que cria cenários para o pensamento.
Artistas e diálogos que compõem o panorama da mostra

A pluralidade da Bienal de São Paulo 2025 se revela tanto na diversidade de artistas quanto na multiplicidade de linguagens. Entre os brasileiros, destacam-se nomes como Heitor dos Prazeres, cuja pintura modernista do cotidiano popular ganha novas camadas de leitura; Lídia Lisbôa, com suas instalações que entrelaçam crochê e escultura; e Marlene Almeida, que explora pigmentos e materiais brasileiros em experimentos visuais cheios de textura.
No eixo internacional, o britânico-guianense Frank Bowling apresenta sua pintura abstrata voltada à diáspora africana, enquanto a jamaicana Camille Turner propõe uma instalação imersiva que une ancestralidade e futurismo. As videoartistas Cici Wu e Yuan Yuan exploram o tema da migração e da memória por meio de narrativas fragmentadas, em obras que se expandem para além da tela.
A Bienal como espelho do tempo

Cada edição da Bienal reflete o espírito de sua época. Em 2025, o foco é a humanidade em transformação. Há uma urgência em revisitar o que nos une, em tempos marcados pela distância e pela aceleração. A arte aparece como ferramenta de reconexão: com o corpo, com a terra, com a memória coletiva.
Até 11 de janeiro de 2026, o público poderá atravessar esse universo em constante diálogo. A entrada gratuita reforça o caráter democrático da Bienal, permitindo que todos possam se aproximar da arte contemporânea e das questões que ela desperta.
Em um mundo em que os sentidos parecem sobrecarregados, a mostra se apresenta como um respiro.
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